Friday, February 29, 2008

LEIS, PORTAS E CASINOS

Quando apareceu publicada nos jornais a carta da sociedade exploradora do Casino Estoril dirigida a um ministro do CDS no goerno Santana Lopes pedindo para modificar a lei do jogo no sentido de que finda a concessão o imóvel não revertesse obrigatóriamente para o Estado e esclarecendo mesmo que a mudança era tão subtil que pouca gente se ia aperceber da moscambilha, Portas, ex-ministro da defesa no mesmo governo, enervou-se e saltou para a liça.Claro que nem um dos preclaros jornalistas que lhe aparou as cogitações sobre tão fraudulento processo legislativo lhe perguntou o que tinha o minitro da defesa a ver com batota, casinos e negócios quejandos. Assim, à vontade, o ex-ministro mudou a agulha da argumentação até aí usada pelos seus pares e, com base naquela sua intima convicção que o povo português é estúpido e que basta dizer, com voz clara, frases com o sujeito antes do verbo e, se este for transitivo, com o complemento directo a seguir para o engrolar, começou a explicar que o negócio tinha sido óptimo para o estado e também para o povo que tinha poupado muito dinheiro em impostos.
Esqueceu-se óbviamente de dizer como uma empresa explorando negócios pouco sadios tem poder para por um governo a modificar leis em seu directo beneficio, utilizando truques disfarçadores do real objectivo; também se esqueceu de explicar ao povo néscio como é que, dentro de umas dezenas de anos, quando terminar esta concessão, se vai ver um governo para por em concurso sério uma concessão sediada num local propriedade de um dos prováveis concorrentes que , ainda por cima, terá a faculdade de fixar a renda se a concessão não lhe for atribuida. Claro que a Sociedade Estoril-Sol só escreveu aquela carta altamente comprometedora, porque , depois das promessas que lhe tinham sido feitas estava mesmo a ver que lhe iam roer a corda porque não sabiam como descalçar a bota. Assim mandou-lhes a carta mais a lei para que , com a sua proverbial burrice, não fizessem asneira. Por outro lado torna-se evidente a importancia do singular visto do ministro CDS Telmo Correia,no parecer da Direcção de Jogos que lhe dizia que, em face da nova lei, já não era obrigatória a reversão`É que ele, também de acordo com a subtileza da nova lei, podia ter dado um despacho do género: Visto. Concordo. Introduza-se cláusula de reversão no contrato de concessão. MAS NÃO O FEZ!
AR

Friday, February 15, 2008

AINDA A CORRUPÇÃO

A corrupção está na moda. Não comentá-la ou criticá-la, mas faze-la. Os nossos média sempre tão ávidos em criticar as mais pequenas falhas nas reformas do governo, mostram-se muito contidos na escandaleira do BCP e nas cumplicidades que a tornaram possível. Todos estamos lembrados das desculpas esfarrapadas do governador do Banco de Portugal: que não podia controlar tudo, que eram 12 milhões de operações, etc. , etc. Sabem o que aconteceu em França, na "Societé Generale ". O presidente apresentou a demissão e desculpou-se dizendo que não tinha conseguido controlar aquela situação ( com o que não excluia a sua responsabilidade). Sabem como comentou isto o Presidente da Rèpública, Sarkozi? Disse que pessoas que ganham o que ganha o presidente da "Societé Generale" têm de cumprir tudo o que lhes compete e não se podem desculpar com " não consegui".Mas ,aqui, neste cantinho de brandos costumes, as mais disparatadas desculpas são ditas na TV, na Rádio, nos jornais, os comentadores calam-se ou põem aquele sorriso ambíguo da rapaziada do " Expresso da Meia-Noite ", o Governo nada diz, porque não se intromete em questões privadas (mas afinal aquela actuação dos gestores do BCP não pôs em causa o nosso tão gabado sistema financeiro e isso não é coisa públic
Com ironia, Montaigne, nos seus ensaios, perante situações semelhantes de corrupção e ganancia, preconizava outras soluções. Dizia ele, conformado:

...Em qualquer estado político há necessáriamente funções não só abjectas como corruptas...

Se elas se tornam descukpáveis, na medida em que precisamos delas e a necessidade comum apaga a sua verdadeira qualidade, deixemos que tais papeis sejam desempenhados por cidadãos mais vigorosos e menos medrosos que sacrifiquem a sua honra e a sua consciencia como aqueles antigos que sacrificavam a vida para salvar a pátria. O bem comum exige que se minta traia ou massacre; pois entrguemos essa comissão aos que são mais obedientes e subtis que nós.

Talvez tenha razão.

A. R.